quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Evangelho Segundo o Espiritismo






MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO








A VIDA FUTURA


    « Tornou pois a entrar Pilatos no pretório, e chamou a Jesus, e disse-lhe: Tu és o Rei dos judeus.
Respondeu-lhe Jesus: O meu Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, certo que .pelejar para que eu não fosse entregue aos judeus; mas por agora, o meu Reino não é daqui. Disse-lhe então Pilatos: Logo tu és rei? Respondeu Jesus: Tu o dizes, que eu sou rei. Eu não nasci nem vim a este mundo senão para dar testemunho da verdade; todo aquele que é da verdade, ouve a minha voz».( João, cap. XVIII, 33-37).

 Por estas palavras, Jesus se refere claramente à vida futura, que ele apresenta em todas as circunstâncias, como o fim a que se destina a humanidade, e como devendo ser o objecto das principais preocupações do homem sobre a terra. Todas as suas máximas se referem a esse grande princípio. Sem a vida futura, com efeito a maior parte dos seus preceitos de moral não teriam nenhuma razão de ser. É por isso que os que não crêem na vida futura, pensando que ele apenas falava na vida presente, não os compreendem ou os acham pueris
  Esse dogma pode ser considerado portanto, como o ponto central do ensinamento do Cristo. Eis porque está colocado, entre os primeiros no inicio desta obra, pois deve ser a meta de todos os homens. Só ele pode justificar os absurdos da vida terrestre e harmonizar-se com a justiça de Deus.

 Os judeus tinham ideias muito imprecisas sobre a vida futura. Acreditavam nos anjos, que consideravam como o seres previligiados da criação, mas não sabiam que os homens, um dia, pudessem tornar-se anjos e participar da felicidade angélica. Segundo pensavam, a observação das leis de Deus, era recompensada pelos bens terrenos, pela supremacia de sua nação no mundo,, pelas vitórias que obteriam sobre os inimigos. As calamidades públicas e as derrotas eram os castigos da desobediência. Moisés o confirmou ao dizer essas coisas, ainda mais fortemente, a um povo ignorante, de pastores, que precisava ser tocado antes de tudo, pelos interesses deste mundo. Mais tarde, Jesus veio lhes revelar que existe outro mundo, onde a justiça de Deus se realiza. É esse mundo que ele promete aos que observam os mandamentos de Deus. É nele que os bons são recompensados.
 esse mundo é o seu Reino, no qual se encontra em toda a sua glória, e para o qual voltará ao deixar a terra.

 Jesus, entretanto conformando seu ensino ao estado dos homens da época, evitou dar-lhes o esclarecimento completo, que os deslumbraria, em vez de iluminar, porque eles não o teriam compreendido. Ele se limitou, a colocar de certo modo, a vida futura, como um princípio, uma lei da natureza, à qual ninguém pode escapar. Todo o cristão, portanto, crê forçosamente na vida futura, mas a ideia que muitos fazem dela é vaga, incompleta, e por isso mesmo falsa em muitos pontos. Para grande numero é apenas uma crença sem nenhuma certeza decisiva, e daí as  dúvidas, e até mesmo a incredulidade.

 O Espiritismo, veio completar, nesse ponto, como em muitos outros, o ensinamento do Cristo, quando os homens se mostraram maduros, para compreender a verdade. Com o Espiritismo, a vida futura não é mais simples artigo de fé, ou simples hipótese. É uma realidade material, provada pelos factos Porque são as testemunhas oculares que a vêm descrever em todas as suas faces e peripécias, de tal maneira que não só a dúvida não é mais possível, mas também a inteligência mais vulgar pode fazer uma ideia dos seus mais variados aspectos, da mesma forma que imaginaria um país, do qual lê uma descrição detalhada. Ora, esta descrição da vida futura é de tal maneira circunstanciada, são tão racionais as condições da existência feliz ou infeliz dos que nela se encontram, que acabamos por concordar que não podia ser de outra maneira, e que ela bem representa a justiça de Deus.

  

A REALEZA DE JESUS



  O reino de Jesus não é deste mundo. Isso todos compreendem. Mas sobre a terra ela não terá também uma realeza? O título de rei nem sempre exige o exercício do poder temporal. Ele é dado, por consenso unânime, aos que, por seu génio, se  colocam em primeiro lugar em alguma actividade, dominando o seu século e influindo sobre o progresso da humanidade. É nesse sentido que se diz: O rei ou o príncipe dos filósofos, dos artistas, dos poetas, dos escritores etc. Essa realeza que nasce do mérito pessoal, consagrada pela posteridade, não tem muitas vezes maior preponderãncia do que a dos Reis coroados? Ela é impericível, enquanto a outra depende das circunstãncias; ela é sempre abençoada pela gerações futuras, enquanto a outra é, às vezes, amaldiçoada. A realeza terrena acaba com a vida, mas a realeza moral continua a imperar, sobretudo depois da morte. Sob esse aspecto, Jesus não é um rei mais poderoso do que muitos potentados? foi com razão, portanto que ele disse a Pilatos: Eu sou rei, mas o meu reino não é deste mundo.


 O PONTO DE VISTA


  A ideia clara e precisa que se faz da vida futura dá uma fé inabalável do porvir, e essa fé tem consequências enormes sobre a moralização dos homens, porque muda completamente o ponto de vista pelo qual eles encaram a vida terrena. Para aquele que se coloca , pelo pensamento, na vida espiritual, que é infinita, a vida corporal não é mais do que rápida passagem, uma breve permanência num país ingrato.As vicissitudes e as tribulações da vida, são apenas incidentes que ele enfrenta com paciência, porque sabe que são de curta duração e devem ser seguidos de uma situação mais feliz.
  A morte nada tem de pavoroso, não é mais a porta do nada, mas a da libertação, que abre para o exilado a morada da felicidade,e da paz. Sabendo que se encontra numa situação temporária e não definitiva, ele encara as dificuldades da vida com mais indiferença, do que resulta uma calma de espírito que lhe abranda as amarguras
   Pela simples dúvida sobre a vida futura, o homem concentra todos os seus pensamentos na vida terrena. Incerto do porvir, dedica-se inteiramente ao presente, não entrevendo bens mais preciosos do que os da terra, ele se porta como a criança que nada vê além dos seus brinquedos, e tudo faz para os obter. A perda do menor dos seus bens causa-lhe pungente mágoa. Um desengano, uma esperança perdida, uma ambição insatisfeita, uma injustiça de que for vítima, o orgulho ou a vaidade feridas, são tantos outros tormentos, que fazem da sua vida uma angústia perpétua pois que se entrega voluntariamente a uma verdadeira tortura de todos os instantes 
   Sob o ponto de vista da vida terrena, em cujo centro se coloca, tudo se agiganta ao seu redor. O mal que o atinge,  como o bem que toca os outros, tudo adquire aos seus olhos uma enorme importância.      É como o homem que, dentro de uma cidade,vê tudo grande em seu redor: os cidadãos eminentes  como os monumentos; mas que subindo a uma montanha tudo lhe parece pequeno
  
  Assim acontece com aquele que encara a vida terrena do ponto de vista da vida futura: A humanidade, como as estrelas no céu, se perde na imensidade; ele então se apercebe de que grandes e pequenos, se confundem como as formigas num monte de terra; que os operários e poderosos são da mesma estatura; e ele lamenta essas criaturas efémeras, que tanto se esfalfam para conquistar uma posição que os eleva tão pouco e por tão pouco tempo. É assim que a importância atribuída aos bens terrenos está sempre na razão inversa da fé,que se tem na vida futura.

   Se todos pensarem assim; dir-se-á; ninguém mais se ocupando das coisas da terra, tudo perigará. Mas não, porque o homem procura instintivamente o seu bem- estar, e mesmo tendo a certeza de que ficará por pouco tempo em algum lugar, ainda quererá estar o melhor ou o menos mal possível. Não há uma só pessoa que, sentindo um espinho sob a mão, não o retire para não ser picada. Ora a procura do bem estar força o homem  a melhorar todas as coisas impulsionado como é pelo instinto do progresso e da conservação, que decorre das próprias leis da natureza. Ele trabalha portanto, por necessidade, por gosto, e por dever, e com isso cumpre os desígnios da Providência, que o colocou na terra para esse fim. Só aquele que considera o futuro, pode dar ao presente uma importância relativa, consolando-se facilmente dos seus reveses, ao pensar no destino que o aguarda. 
  
  Deus não condena, portanto, os gozos terrenos, mas o abuso desses gozos, em prejuízo dos interesses da alma.É contra esse abuso que se previnem os que compreendem estas palavras de Jesus:
  O meu reino não é deste mundo Aquele que se identifica com a vida futura é semelhante a um homem rico, que perde uma pequena soma sem se perturbar; e aquele que concentra os seus pensamentos na vida terrestre é como o pobre que, ao perder tudo o que possui, cai em desespero.

   O Espiritismo dá amplitude ao pensamento e abre-lhe novos horizontes. Em vez dessa visão estreita e mesquinha, que o concentra na vida presente, fazendo do instante que passa sobre a terra o único e frágil esteio do futuro eterno, ele nos mostra que esta vida é um simples elo do conjunto harmonioso e grandioso da obra do Criador, e revela a solidariedade que todas as existências de um mesmo ser, todos os seres de um mesmo mundo e os seres de todos os mundos.Oferece assim, uma base e uma razão de ser à fraternidade universal, enquanto a doutrina da criação da alma, no momento do nascimento de cada corpo, faz que todos os seres sejam estranhos uns aos outros Essa  solidariedade das partes de um mesmo todo, explica o que é inexplicável, quando apenas considerarmos uma parte. Essa visão de conjunto, os homens do tempo de Cristo não podiam compreender, e por isso o seu conhecimento foi reservado para mais tarde.

Evangelho Segundo o Espiritsmo, Allan Kardec

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