segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Evangelho Segundo o Espiritismo



BEM-AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO




O QUE SE DEVE ENTENDER POR POBRES DE ESPÍRITO


   Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus                   (Mateus, V: 3) 

    A incredulidade diverte-se com esta máxima: Bem-aventurados os pobres de espírito, como com muitas outras coisas que não compreende. Por pobres de espírito, entretanto, Jesus não entende os tolos, mas os humildes, e diz que o Reino dos Céus é destes e não dos orgulhosos.
   Os homens cultos e inteligentes, segundo o mundo, fazem geralmente tão elevada opinião de si mesmos e de sua própria superioridade, que consideram as coisas divinas, como indignas de sua atenção. Preocupados somente com eles mesmos, não podem elevar o pensamento a Deus. Essa tendência a se acreditarem superiores a tudo leva-os muito frequentemente a negar o que, sendo-lhes superior, pudesse rebaixá-los, e a negar até mesmo a Divindade. E, se concordam em admiti-la, contestam-lhe um dos mais belos atributos: a ação providencial sobre as coisas deste mundo, convencidos de que são suficientes para bem governá-lo. Tomando sua inteligência como medida de inteligência universal, e julgando-se aptos a tudo compreender, não podem admitir como possível aquilo que não compreendem. Quando se pronunciam sobre alguma coisa, seu julgamento é para eles inapelável.
  Se não admitem o mundo invisível, e um poder extra-humano, não é porque isso esteja fora de seu alcance, mas porque o seu orgulho se revolta à ideia de alguma coisa, a que não possam sobrepor-se, e que os faria descer de seu pedestal. Eis porque só têm sorrisos de desdém por tudo o que não seja do mundo visível, e tangível. atribuem-se demasiada inteligência e muito conhecimento para acreditarem em coisas que, segundo pensam, são boas para os simples, considerando como pobres de espírito,os que as levam a sério.
  Entretanto, digam o que quiserem, terão de entrar, como os outros, nesse mundo invisível que tanto ironizam. Então seus olhos se abrirão, e reconhecerão o erro. Mas Deus que é justo, não pode receber da mesma maneira aquele que desconheceu o seu poder e aquele que humildemente se submeteu às suas leis, nem aquinhoá-los por igual.
   Ao dizer que o Reino dos Céus é para os simples, Jesus afirma que ninguém será nele admitido sem a simplicidade de coração e a humildade de espírito; que o ignorante que possui essas qualidades será preferido ao sábio que acreditar mais em si mesmo do que em Deus. Em todas as circunstâncias, ele coloca a humildade entre as virtudes que nos aproximam de Deus, e o orgulho entre os vícios que dele nos afastam. E isso por uma razão muito natural, pois a humildade é uma atitude de submissão a Deus, enquanto o orgulho é a revolta contra Ele. Mais vale, portanto, para a felicidade do homem, ser pobre de espírito, no sentido mundano, e rico de qualidades morais.


QUEM SE ELEVAR SERÁ REBAIXADO


     Naquela hora, chegaram-se a Jesus os seus  discípulos, dizendo: Quem é o maior no Reino dos Céus? E Jesus chamando um menino, o pôs no meio deles, e disse: Na verdade vos digo que, se não vos fizerdes como meninos, não entrareis no Reino dos Céus. Todo aquele, pois, que se humilhar e se fizer pequeno como este menino, esse será o maior no Reino dos Céus. E o que receber em meu nome um menino como este, a mim é que recebe. ( Mateus, XVIII: 1-5).


   E aconteceu que,  entrando Jesus num sábado em casa de um dos principais fariseus, a tomar a sua refeição,, ainda eles o estavam ali observando. e notando como os convidados escolhiam os primeiros assentos à mesa, propôs-lhes esta parábola: Quando fores convidado a alguma boda, não te assentes no primeiro lugar, porque pode ser que esteja ali outra pessoa mais autorizada que, a ti, e a ele te diga: dá o teu lugar a este; e tu envergonhado, vás buscar o último lugar. Mas, quando fores convidado, vai tomar o último lugar, para que quando vier o que te convidou, te diga: amigo, senta-te mais para cima. Servir-te-á isto então de glória, na presença dos que estiverem juntamente sentados à mesa. Porque todo o que exalta será humilhado; e todo o que se humilha, será exaltado. 
  ( Lucas, XIV: 1,7-11).

   Estas máximas são consequência do princípio de humildade, que Jesus põe incessantemente, como condição essencial da felicidade prometida aos eleitos do Senhor, nas seguintes palavras:
« Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus.». Ele toma um menino como exemplo da simplicidade de coração, e diz: «Todo aquele pois, que se fizer pequeno como este menino, será o maior no Reino dos Céus.»; ou seja, aquele que não tiver pretensões à superioridade ou à infalibilidade.
 O mesmo pensamento fundamental se encontra nesta outra  máxima: « Aquele que quiser ser o maior, seja o que vos sirva», e ainda nesta: « Porque quem se exalta será humilhado,  e quem se humilha, será exaltado.»
 O Espiritismo vem confirmar a teoria pelo exemplo, ao mostrar que os grandes no mundo dos Espíritos são os que foram pequenos na Terra, e que frequentemente são bem pequenos, os que foram grandes e poderosos. É que os  primeiros levaram consigo ao morrer aquilo que unicamente constitui a verdadeira grandeza no céu, e que nunca se perde: as virtudes; enquanto os outros tiveram  de deixar aquilo que os fazia grandes na Terra e que não se pode levar; a fortuna, os títulos, a glória, a linhagem. Não tendo nada mais, chegam ao outro mundo desprovidos de tudo como náufragos, que tudo perderam, até as roupas. Conservam apenas o orgulho, que torna ainda mais humilhante  a sua nova posição, porque vêm acima deles e resplandecentes de glória, aqueles que espezinharam na Terra.
    O Espiritismo mostra-nos outra aplicação desse princípio nas encarnações sucessivas, onde aqueles que mais se elevaram numa existência, são abaixados até ao ultimo lugar, numa existência seguinte, se se deixaram dominar pelo orgulho e ambição. Não, procureis pois, o primeiro lugar na Terra, nem queirais sobrepor-vos aos outros, se não quiserdes ser obrigados a descer. Procurai, pelo contrário, o mais humilde e o mais modesto, porque Deus saberá vos dar mais elevado no céu, se o merecerdes.


MISTÉRIOS OCULTOS AOS SÁBIOS E PRUDENTES

  
       Naquele tempo, respondendo disse jesus: Graças te dou a ti, Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e prudentes, e as revelaste aos simples e pequeninos.
 ( Mateus, XI: 25).

      Pode parecer estranho que Jesus renda graças a Deus, por haver revelado essas coisas aos simples e pequeninos, que são os pobres de espírito, ocultando-as aos sábios e prudentes, mais aptos aparentemente a compreendê-las. É que precisamos entender pelos primeiros os humildes, os que se humilham diante de Deus e não se consideram superiores aos outros; e, pelos segundos, os orgulhosos, envaidecidos com o seu saber mundano, que se julgam prudentes pois que eles negam a Deus, tratando-O de igual para igual, quando não o rejeitam.. Isso porque na antiguidade sábio era sinónimo de sabichão. Assim, Deus lhe deixa a busca dos segredos da Terra, e revela os do céu, aos humildes, que se inclinam perante Ele. 
   O mesmo acontece hoje, com as grandes verdades reveladas pelo Espiritismo. Certos incrédulos se admiram, de que os Espíritos se esforcem tão pouco para os convencer. É que eles se ocupam dos que buscam a luz com boa-fé  e  humildade, de preferência aos que julgam possuir toda a luz e parecem pensar que Deus deveria ficar muito feliz de os conduzir a Ele, provando-lhes a sua existência.
   O poder de Deus revela-se nas pequenas como nas grandes coisas. Ele não põe a luz sob o alqueire, mas a derrama por toda a parte; cegos são os que não vêem. Deus não quer abrir-lhes os olhos à força, pois que eles gostam de os ter fechados. Chegará a sua vez, mas antes é necessário que sintam as angústias das trevas, e reconheçam Deus, e não o acaso, na mão que lhe fere o orgulho. Para vencer a incredulidade, Ele emprega os meios que lhes convém, segundo os indivíduos. Não é a incredulidade que lhes há-de prescrever o que deve fazer, ou lhe vai dizer: Se quiserdes me convencer, é necessário que faças isto, ou aquilo, neste momento, e não naquele. porque este é que me convém.
   Não se admirem, pois, os incrédulos, se Deus e os Espíritos, que são os agentes da sua vontade, não se submetem às suas exigências. Perguntem o que diriam se o ultimo dos seus servos lhes quisessem fazer imposições. Deus impõe condições, não se submete a elas. Ouve com bondade os que o procuram humildemente, e não os que se julgam mais do que Ele.

   Deus, dir-se-á, não poderia tocá-los  pessoalmente por meio de prodígios evidentes, perante os quais o mais duro incrédulo teria de curvar-se? Sem dúvida que o poderia, mas, nesse caso, onde estaria o seu mérito; e ademais do que serviria isso? Não os vemos diariamente recusar a evidência e até mesmo dizer: ainda que o visse, não acreditaria, pois sei que é impossível. Se eles se recusam a reconhecer a verdade, é porque o seu Espírito ainda não está maduro para a compreender, nem o seu coração para o sentir. O orgulho é a venda que lhes tapa os olhos. Que adianta apresentar a luz a um cego? Seria preciso, pois, curar primeiro a causa do mal; eis porque, como hábil médico. Ele castiga  primeiramente o orgulho. Não abandona os filhos perdidos,  pois sabe que, cedo  ou tarde, seus olhos se abrirão; mas quer que o façam de vontade própria. E então vencidos pelos tormentos da incredulidade, atirar-se-ão por si mesmos em seus braços e como o filho pródigo lhe pedirão perdão.



INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS


  Homens, por que lamentais as calamidades que vós mesmos amontoastes sobre a vossa cabeça? Desprezastes a santa e divina moral do Cristo: não vos admireis que a taça da iniquidade tenha transbordado por toda a parte.
 O mal-estar torna-se geral. a quem se deve, se não a vós mesmos, que incessantemente procurais aniquilar-vos uns aos outros? Não poderíeis ser felizes, sem mútua benevolência, e como poderá existir juntamente com o orgulho? O orgulho, eis a fonte de todos os vossos males. dedicai-vos pois, à tarefa de destrui-lo, se não quiserdes perpetuar as suas funestas consequências. Um só meio tendes para isso, mas infalível: tomai a lei do Cristo por regra invariável de vossa conduta, essa lei que haveis rejeitado ou falseado na sua interpretação.
 Porque tendes em tão grande estima o que encanta e brilha a vossos olhos, em lugar do que vos toca o coração? Porque o vício que se desenvolve na opulência é o objeto da vossa reverência, enquanto só tendes um olhar de desdém, para o verdadeiro mérito, que se oculta na obscuridade? Que um rico libertino, perdido de corpo e alma se apresente em qualquer lugar, e todas as portas lhe são abertas, todas as honras lhe são dispensadas, enquanto dificilmente se concede um gesto de proteção ao homem de bem que vive só do seu trabalho. Quando a consideração que se dispensa às pessoas é medida pelo peso do ouro que elas possuem, ou pelo nome que trazem, que interesse podem ter elas em se corrigirem de seus defeitos?
  Bem diferente seria, entretanto, se o vício dourado fosse fustigado pela opinião pública, como o é o vício andrajoso. Mas o orgulho é indulgente para tudo quanto o agrada. Séculos de concupisciência e de dinheiro dizeis vós. Sem dúvida; mas porque deixastes as necessidades materiais se sobreporem ao bom-senso e à razão? Porque cada qual deseja se elevar sobre seu irmão? Agora, a sociedade sofre as consequências.
 Não esqueçais que um tal estado de coisas é sempre um sinal da decadência moral. Quando o orgulho atinge o seu extremo, é indício de uma próxima queda, pois Deus pune sempre os soberbos. Se às vezes os deixa subir, é para lhes dar o tempo de reflectir e emendar-se, sob os golpes que,  de tempos a tempos desfere no seu orgulho como advertência. Entretanto, em vez de se humilharem, eles revoltam-se. Então quando a medida está cheia, Ele a vira de repente, e a queda é tanto mais terrível, quanto mais alto tiverem se elevado.
 Pobre raça humana, cujos caminhos foram todos corrompidos pelo egoísmo, reanimai-vos, apesar disso! Na sua infinita misericórdia, Deus envia um poderoso remédio aos teus males, um socorro inesperado à tua aflição. Abre os olhos à luz: eis que as almas dos que se foram estão de volta, para te recordarem os verdadeiros deveres. Elas te dirão com a autoridade da experiência, quanto as vaidades e as grandezas, da vossa  passageira existência são pequeninas, diante da eternidade. Dirão que, nesta, será maior o que foi menor entre os  pequenos deste mundo; que o que mais amou os seus irmãos será o mais amado no Céu; que os poderosos da Terra, se abusaram da autoridade, serão obrigado a obedecer aos seu servos; que a caridade e a humildade, enfim, essas duas irmãs que se dão as mãos, são os títulos mais eficazes para obter-se a graça do Eterno.


MISSÃO DO HOMEM INTELIGENTE NA TERRA


      Não vos orgulheis por aquilo que sabeis, porque esse saber tem limites bem estreitos, no mundo que habitais. Mesmo supondo que sejais uma das sumidades  deste globo, não tendes nenhuma razão para vos envaidecer. Se Deus, nos seus desígnios, vos fez nascer num meio onde pudestes desenvolver a vossa inteligência, foi por querer que a usásseis em benefício de todos. Porque é uma missão que Ele vos dá, pondo em vossas mãos o instrumento com o qual podeis desenvolver, ao vosso redor, as inteligências retardatárias e conduzi-las a Deus. A natureza do instrumento não indica o uso que dele se deve fazer? A enxada que o jardineiro põe nas mãos do seu ajudante não indica que ele deve cavar? E o que direis se o trabalhador, em vez de trabalhar, erguesse a enxada para ferir o seu senhor? Direis que isso é horroroso, e que ele deve ser expulso. Pois bem, não se passa o mesmo com aquele que se serve da sua inteligência para destruir entre os seus irmãos, a ideia da Providência? Não ergue contra o seu senhor a enxada que lhe foi dada para preparar o terreno? Terá ele direito ao salário prometido, ou merece, pelo contrário, ser expulso do jardim? Pois o será, não o duvideis, e arrastará existências miseráveis e cheias de humilhação, até que se curve diante           
d´Aquele a quem tudo deve.
  A inteligência é rica em méritos para o futuro, mas com a condição de ser bem empregada. Se todos os homens  bem dotados se servissem dela segundo os desígnios de Deus, a tarefa dos Espíritos seria fácil, ao fazerem progredir a humanidade. Muitos infelizmente a transformam em instrumentos de orgulho e de perdição para si mesmos. O homem abusa de sua inteligência, como de todas as suas faculdades, mas não lhe faltam lições, advertindo-o de que uma poderosa mão, pode retirar-lhe o que ela mesma lhe deu.  




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