sábado, 4 de outubro de 2014

Evangelho Segundo o Espiritismo






HÁ MUITAS MORADAS NA CASA DE MEU PAI







    Não se turbe o vosso coração. Crede em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na casa de meu pai. Se assim não fosse, eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos o lugar. E depois que eu me for, e vos aparelhar o lugar, virei outra vez, e tomar-vos-ei para mim, para que lá onde eu estiver, estejais vós também. ( João, XIV: 1-3).


DIFERENTES  ESTADOS  DA ALMA NA ERRATICIDADE



       A Casa do Pai é o Universo. As diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito, oferecendo aos Espíritos desencarnados estações apropriadas ao seu adiantamento
       Independentemente da diversidade dos mundos, essas palavras podem também ser interpretadas pelo estado feliz ou infeliz dos Espíritos na erraticidade. Conforme for ele mais ou menos puro e liberto das atracções materiais, o meio em que estiver, o aspecto das coisas, as sensações que experimentar, as percepções que possuir, tudo isso varia ao infinito. Enquanto uns, por exemplo não podem afastar-se do meio em que viveram, outros se elevam e percorrem o espaço e os mundos. Enquanto certos Espíritos culpados erram nas trevas, os felizes gozam de uma resplandecente e do sublime espectáculo do infinito. Enquanto, enfim, o malvado,cheio de remorsos e pesares, frequentemente só, sem consolações, separado dos objectos da sua afeição, geme sob a opressão dos sofrimentos morais, o justo, junto aos que ama,goza de uma indizível felicidade. Essas também são, portanto, diferentes moradas, embora não localizadas nem circunscritas.


DIVERSAS CATEGORIAS DE MUNDOS HABITADOS



      Do ensinamento dado pelos Espíritos, resulta que os diversos mundos possuem condições muito diferentes uns dos outros, quanto ao grau de adiantamento ou de inferioridade de seus habitantes.
Dentre eles há os que são ainda inferiores à Terra, física, e moralmente. Outros estão no mesmo grau, e outros lhe são mais ou menos, superiores, em todos os sentidos.Nos mundos inferiores, a existência é toda material, as paixões reinam soberanas, a vida moral quase não existe. À medida que esta se desenvolve, a influência da matéria diminui, de maneira que, nos mundos mais avançados a vida é por assim dizer toda espiritual.


    Nos mundos intermediários o bem e o  mal se misturam, e um predomina sobre o outro, segundo o grau de adiantamento em que se encontrem. embora não possamos fazer uma classificação absoluta dos diversos mundos, podemos, pelo menos, considerando o seu estado e o seu destino, com base nos seus aspectos mais destacados, dividi-los assim, de um moo geral:  mundos primitivos, onde se verificam as primeiras encarnações da alma humana; mundos de expiação e de provas em que o mal predomina; mundos regeneradores, em que as almas que ainda têm de expiar adquirem novas forças, repousando das fadigas da luta; mundos felizes, onde o bem supera o mal; mundos celestes ou divinos, morada dos Espíritos purificados, onde o bem reina sem mistura. A Terra pertence à categoria dos mundos de expiações e de provas, e é por isso que nela o homem está exposto a tantas misérias

  Os Espíritos encarnados num mundo, não estão ligados a ele indefinidamente, e não passam nesse mundo por todas as faces do progresso que devem realizar, para chegar à perfeição. Quando atingem o grau de adiantamento necessário, passam para outro mundo mais adiantado, e assim sucessivamente, até chegarem ao estado de Espíritos puros. Os mundos são as estações em que eles encontram os elementos de progresso proporcionais ao seu adiantamento. É para eles uma recompensa passarem a um mundo de ordem mais elevada como é um castigo prolongarem sua permanência num mundo infeliz, ou serem relegados a um mundo ainda mais infeliz, por se haverem obstinado ao mal.


DESTINO  DA TERRA E CAUSA DAS MISÉRIAS HUMANAS


   Admira-se de haver sobre a Terra tantas maldades e tantas paixões inferiores, tantas misérias e enfermidades de toda a sorte, concluindo-se  que miserável coisa é a espécie humana. Esse julgamento decorre de uma visão estreita que dá uma falsa ideia do conjunto. É necessário considerar que toda a humanidade não se encontra na Terra, mas apenas uma pequena fracção dela. Porque a espécie humana  abrange todos os seres dotados de razão que povoam os inumeráveis mundos do Universo. Ora, o que seria a população da Terra, diante da população total desses mundos? Bem menos do que a de um lugarejo em relação a de um grande império. A condição material e moral da humanidade terrena nada tem, pois, de estranho, se levarmos em conta o destino da Terra e a natureza da sua população.


   Faríamos uma ideia muito falsa da população de uma grande cidade, se a julgássemos pelos moradores dos bairros mais pobres e sórdidos. Num  hospital, só vemos doentes  e estropiados: numa galé vemos todas s torpezas, todos os vícios reunidos; nas regiões insalubres, a maior parte dos habitantes são pálidos, fracos e doentes. Pois bem. Consideremos a Terra como um arrabalde, um hospital, uma penitenciaria, um pantanal, porque ela é tudo isso a um só tempo, e compreenderemos porque  as suas aflições sobrepujam os prazeres. Porque não se enviam aos hospitais as pessoas sadias, nem às casas de correcção os que não praticaram crimes, e nem os hospitais, nem as casas de correcção, são lugares de delícias.
  Ora, da mesma maneira que, numa cidade, nem toda a população se encontra nos hospitais ou nas prisões, assim a humanidade inteira não se encontra na Terra. e como saímos do hospital quando estamos curados, e da prisão quando cumprimos a pena, o homem sai da Terra para mundos mais felizes, quando se acha curado de suas enfermidades morais.

MUNDOS SUPERIORES E INFERIORES

   A  classificação de mundos inferiores e mundos superiores é antes relativa do que absoluta, pois um mundo é inferior ou superior em relação aos que se acham abaixo ou acima dele, na escala progressiva.
    Tomando a Terra como ponto de comparação, pode fazer-se uma ideia do estado de um mundo inferior, supondo os seus habitantes no grau evolutivo dos povos selvagens e das nações bárbaras que ainda se encontram em nosso planeta, como restos do seu estado primitivo. nos mundos mais atrasados, os homens são de certo modo rudimentares. Possuem a forma humana, mas sem nenhuma beleza; seus instintos não são temperados por nenhum sentimento de delicadeza ou benevolência,  nem pelas noções do justo e do injusto; a força bruta, é sua única lei. Sem indústrias sem invenções, dedicam sua vida à conquista dos alimentos. Não obstante, Deus não abandona nenhuma das suas criaturas. No fundo tenebroso dessas inteligências encontra-se latente a vaga intuição de um Ser Supremo, mais ou menos desenvolvida. Esse instinto é suficiente para que uns se tornem superiores aos outros, preparando-se para a eclosão de uma vida mais plena. Porque eles não são criaturas degradadas, mas crianças que crescem.
  Entre esses graus inferiores e mais elevados, há inumeráveis degraus, entre os espíritos puros, desmaterializados e resplandescentes de  glória, é difícil reconhecer os que animaram os seres primitivos, da mesma maneira que, no homem adulto é difícil  reconhecer o antigo embrião.

  Nos mundos que atingiram um grau superior de evolução, as condições da vida moral e material são muito diferentes das que encontramos na Terra. A forma dos corpos é sempre, como por toda a parte, a humana, mas embelezada, aperfeiçoada, e sobretudo purificada. O corpo nada tem de materialidade terrena, e não está, por isso mesmo, sujeito às necessidades, às doenças e ás deteriorações decorrentes do predomínio da matéria. Os sentidos, mais subtis, têm percepções que a grosseria dos nossos órgãos sufoca. A leveza  específica dos corpos torna a locomoção rápida e fácil. em vez de se arrastarem penosamente sobre o solo, eles deslizam, por assim dizer, pela superfície ou pelo ar, pelo esforço apenas da vontade, à maneira das representações de anjos ou dos mares dos antigos nos Campos Elísios. Os homens conservam à vontade os traços das suas existências passadas, e aparecem aos amigos em suas formas conhecidas, mas iluminadas por uma luz divina, transfigurada pelas impressões interiores, que são sempre elevadas, Em vez de rostos pálidos arruinados pelos sofrimentos e as paixões, a inteligência e a vida esplendem, com esse brilho que os pintores traduziram pela auréola dos santos. A pouca resistência que a matéria oferece aos Espíritos já bastante adiantados, facilita o desenvolvimento os corpos e abrevia e quase anula o período de infância. A vida, isenta de cuidados e angústias, é proporcionalmente muito mais longa do que a da Terra. Em princípio a longevidade é proporcional ao grau de adiantamento dos mundos. A morte não tem nenhum dos horrores da decomposição, e longe de ser  motivo de pavor, é considerada como uma transformação feliz, pois não existem dúvidas quanto ao futuro. Durante a vida, não estando a alma encerrada numa matéria compacta, irradia e goza de uma lucidez que a deixa num estado quase permanente de emancipação, permitindo a livre transmissão do pensamento.

   Nos mundos felizes, as ralações de povo para povo, sempre amigáveis, jamais são perturbadas pelas ambições de dominações e pelas guerras que lhe são consequentes. Não existem senhores nem escravos, nem privilegiados de nascimento. Só a superioridade moral e intelectual determina as diferentes condições e confere a supremacia. A autoridade é sempre respeitada porque decorre unicamente do mérito, e se exerce sempre com justiça. O homem não procura elevar-se sobre o seu semelhante, mas sobre si mesmo, aperfeiçoando-se. Seu objectivo é atingir a classe dos espíritos puros,  esse desejo incessante não constitui um tormento, mas uma nobre ambição, que o fez estudar com ardor para os igualar. Todos  os sentimentos ternos e elevados da natureza humana apresentam-se engrandecidos e purificados. O ódio, as mesquinharias do ciúme, as baixas cobiças da inveja, são ali desconhecidos. Um sentimento de amor  fraternidade une a todos os homens, e os mais fortes, ajudam os  mais fracos. Suas posses são correspondenes às possibilidades de aquisição de suas inteligências, mas ninguém sofre a falta do necessário, porque ninguém ali se encontra em expiação. Numa palavra, o mal não existe.

No vosso mundo,tendes necessidade do mal para sentir o bem, da noite para admirar a luz, da doença para apreciar a saúde. Lá esses contrastes não são necessários. A eterna luz, a eterna bondade, a paz eterna da alma, proporcionam uma alegria eterna, que nem as angústias da vida material, nem os contactos dos maus, que ali não têm acesso, poderiam  perturbar. Eis o que o Espírito humano só difilmente compreende. Ele foi engenhoso para pintar os tormentos do inferno, mas jamais pode representar as alegrias do céu. E isso porquê? Porque sendo inferior, só tem expirimentado penas e misérias, e não pode entrever as claridades celeste. Ele não pode falar daquilo que não conhece. Mas,à medida que se eleva  e se purifica, o seu horizonte se alarga e ele compreende o bem que está à sua frente, como compreendeu o mal que deixa para trás.

  Esses mundos afortunados, entretanto, não são mundos privilegiados. Porque Deus não usa de parcialidade para nenhum dos seus filhos. A todos concede os mesmos direitos e as mesmas facilidades para chegarem até lá. Fez que todos partissem do mesmo ponto, e não dota a uns mais do que a outros. Os primeiros lugares são acessíveis a todos: cabe-lhes conquistá-los pelo trabalho, atingi-los o mais cedo possível, ou abandonar-se por séculos e séculos em meio da escória humana. 


PROGRESSÃO DOS MUNDOS


      O progresso é uma das leis da natureza. Todos os seres da Criação, animados e inanimados, estão submetidos a ela, pela bondade de Deus, que deseja que tudo se engrandeça e prospere. A própria destruição, que parece para os homens, o fim das coisas, é apenas um meio de levá-las, pela transformação, a um estado mais perfeito, pois tudo morre para renascer, e nada volta para o nada.
   Ao mesmo tempo que os seres vivos progridem moralmente, os mundos que eles habitam progridem materialmente. Quem pudesse seguir um mundo em suas diversas fases, desde o instante em que se aglomeram os primeiros átomos da sua constituição, o veria percorrer uma escala incessantemente progressiva, mas em graus insensíveis para cada geração, e oferecer aos seus habitantes uma morada mais agradável, à medida que eles também avançam na senda do progresso.
   Assim, marcham paralelamente o progresso do homem, o dos animais, seus auxiliares, o dos vegetais, e o das  formas de habitação, porque nada fica estacionário na natureza.
    Quanto a esta ideia, é  grandiosa, e digna da majestade do Criador! E como ao contrário, é  pequena e indigna do seu poder aquela que concentra a sua solicitude  e a sua providência no imperceptível grão de areia da Terra, e retinge a humanidade a algumas criaturas que o habitam!
    A Terra, seguindo essa lei, esteve material e moralmente num estado inferior ao de hoje, e atingirá, sob esses dois aspectos, um grau mais avançado. Ela chegou a um dos um dos seus períodos de transformação, e vai passar de mundo expiatório a mundo regenerador. Então os homens encontrarão nela a felicidade, porque a lei de Deus a governará.


EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO,  ALLAN  KARDEC


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