segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Evangelho Segundo o Espiritismo




BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS




            Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.
Bem-aventurados os que padecem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos céus.
 ( Mateus, V:  5, 6 e 10)

           Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus.

Bem-aventurados os que agora tendes fome, porque sereis fartos.
Bem-aventurados vós que agora chorais, porque rireis. (Lucas, VI: 20, e 21)

          Mas ai de vós, ricos, porque tendes no mundo a vossa consolação. Ai de vós, os que estais fartos, porque tereis fome. Ai de vós os que agora rides, porque gemereis e chorareis. 

(Lucas, VI: 24, e 25)



Justiça das aflições

As compensações que jesus promete aos aflitos da terra só podem realizar-se na vida futura. Sem certeza do porvir, essas máximas seriam um contra-senso, ou mais ainda, seriam um engodo. Mesmo com essa certeza, compreede-se difícilmente a utilidade de sofrer para ser feliz. Dize-se que é para haver mais mérito. Mas então se pergunta porque uns sofrem mais do que outros; porque uns nascem na miséria e outros na opulência, sem  nada terem feito para justificar essa posição; porque para uns nada dá certo,  enquanto para outros, tudo parece sorrir? Mas o que ainda menos se compreende é ver os bens e os males tão desigualmente distribuídos, entre o vício e a virtude. Ver homens virtuosos sofrer ao lado de malvados que prosperam. A fé no futuro pode consolar e proporcionar paciência, mas não explica essas anomalias que parecem desmentir a justiça de Deus.

  Entretanto, desde que se admite a existência de Deus, não é possível concebê-Lo sem suas perfeições infinitas. Ele deve ser todo poderoso, todo justiça, todo bondade, pois sem isso não seria Deus. E se Deus é soberanamente justo e bom, não pode agir por capricho, ou com parcialidade. 
    As vicissitudes da vida  têm, pois uma causa, e como Deus é justo, essa causa deve ser justa.
Eis do que todos devem compenetrar-se. Deus encaminhou os homens na compreensão dessa causa, pelos ensinos de Jesus, e hoje considerando-se suficientemente maduros para compreendê-la revela-a por completo através do espiritismo, ou seja pela vós dos espíritos.


Causas actuais das aflições



   As vicissitudes da vida são de duas espécies, ou, se quisermos, têm duas origens bem diversas, que importa distinguir: umas têm sua causa na vida presente; outras, fora desta vida. Remontando à fonte dos males terrenos, reconhece-se que muitos são a consequência natural do carácter e da conduta daqueles que os sofrem. Quantos homens caiem por sua própria culpa! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho, e de sua ambição! Quantas pessoas arruinadas por falta de ordem, de perseverança por mau comportamento ou por não terem limitado os seus desejos! Quantas uniões infelizes porque resultaram dos cálculos do interesse ou da vaidade, nada tendo com isso o coração! Que dissensões e disputas funestas poderiam ser evitadas com mais moderação, e menos susceptibilidade! Quantas doenças e aleijões são o efeito da intemperança e dos excessos de toda a ordem! Quantos pais infelizes com os filhos,por não terem combatido as suas más tendências desde o princípio. Por fraqueza ou indiferença deixaram que se desenvolvessem neles os germes  do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que ressecam o coração. Mais tarde, colhendo o que semearam, admiram-se e afligem-se com a sua falta de respeito, e sua ingratidão.
  Que todos os que têm o coração ferido pelas vicissitudes e as decepções da vida interroguem friamente a própria consciência. Que remontem passo a passo à fonte dos males que os afligem,  e verão se, na maioria das vezes não podem dizer: « Se eu tivesse ou não tivesse feito tal coisa não estaria nesta situação.» 
   A quem portanto, devem todas as aflições senão a si mesmos? O homem é assim num grande número de casos, o autor de seus próprios infortúnios. Mas em vez de reconhecê-los, acha mais simples e menos humilhante para a sua vaidade, acusar a sorte, a Providência a falta de oportunidade sua má estrela, enquanto, na verdade, sua má estrela  é sua própria incúria.
   Os males dessa espécie constituem, seguramente, um número considerável das vicissitudes da vida.
O homem os evitará, quando trabalhar para o seu adiantamento moral e intelectual.

    A lei humana alcança certas faltas e as pune. O condenado pode então dizer que sofreu a conseqência do que praticou. Mas a lei não alcança nem pode alcançar a todas as faltas. Ela castiga especialmente as que causam prejuízo à sociedade, e não as que prejudicam apenas os que as cometem. Mas Deus vê o progresso de todas as criaturas. Eis porque não deixa impune nenhum desvio do caminho recto. Não há uma só falta por mais leve que seja, uma única infracção à sua Lei, que não tenha consequências forçosas e inevitáveis, mais ou menos desagradáveis. Donde se segue que, nas pequenas como nas grandes coisas, o homem é sempre punido naquilo em que pecou. Os sofrimentos consequentes, são então uma advertência de que ele andou mal. Dão-lhe a experiência, e o fazem sentir a diferença entre o bem e o mal, bem como a necessidade de se melhorar.para evitar no futuro, o que já foi para ele uma causa de mágoas. Sem isso, ele não teria nenhum motivo para se emendar, e confiante na impunidade, retardaria o seu adiantamento, e portanto a sua felicidade futura. Mas  a experiência chega, algumas vezes, um pouco tarde; e quando a vida já foi desperdiçada e perturbada, gastas as forças, e o mal é irremediável, então o homem se surpreende a dizer: « Se no começo da vida eu soubesse o que hoje sei, quantas faltas teria evitado; se tivesse de recomeçar, eu me portaria de maneira, inteiramente outra; mas já não há mais tempo!» Como o trabalhador preguiçoso que diz:« Perdi o meu dia», ele também diz: « Perdi a minha vida.» Mas assim como para o trabalhador o sol nasce no dia seguinte, e começa uma nova jornada, em que pode recuperar o tempo perdido, para ele também brilhará o sol de uma vida nova, após a noite do túmulo, e na qual poderá aproveitar a experiência do passado e pôr em execução as suas boas resoluções para o futuro.

Causas anteriores das aflições

    Mas se há males nesta vida de que o homem é a própria causa, há também outros que pelo menos em aparência,são estranhos à sua vontade, e parecem golpeá-lo por fatalidade. Assim, por exemplo a perda de entes queridos, e dos que sustentam a família. Assim também os acidentes que nenhuma providência pode evitar; os reveses da fortuna, que frustram todas as medidas de prudência; os flagelos naturais; e ainda as doenças de nascença, sobretudo aquelas que tiram aos infelizes a possibilidade de ganhar a vida pelo trabalho; as deformidades, a idiotia, a imbecilidade, etc. Os que nascem nessas condições, nada fizeram seguramente nesta vida, para merecer uma sorte tão triste, sem possibilidade de compensação, e que eles não puderam evitar, sendo impotentes para modificá-las, e ficando à mercê da comiseração pública. Por que, pois, esses seres tão desgraçados, enquanto ao seu lado, sob o mesmo tecto, e na mesma família, outros se apresentam favorecidos em todos os sentidos? Que dizer por fim das crianças que morrem em tenra idade, e só conheceram da vida o sofrimento? Problemas,  todos esses que nenhuma filosofia resolveu até agora, anomalias que nenhuma religião pode justificar, e que seriam a negação da bondade, da justiça, e da providência de Deus, segundo a hipótese da criação da alma, ao mesmo tempo que o corpo, e da fixação irrevogável da sua sorte, após a permanência de alguns instantes na Terra. Que fizeram elas essas almas que acabam de sair das mãos do Criador, para sofrerem tantas misérias no mundo, e receberem no futuro, uma recompensa, ou uma punição qualquer, se não puderem seguir, nem o bem nem o mal?
  Entretanto, em virtude do axioma de que todo o efeito tem uma causa, essas misérias são efeitos que devem ter a sua causa, e desde que se admita a existência de um Deus justo, essa causa deve ser justa. Ora a causa sendo sempre anterior ao efeito, e desde que não se encontra na vida actual é porque pertence a uma existência precedente. Por outro lado, Deus não podendo punir pelo bem que se fez, nem pelo mal que não se fez, se somos punidos, é porque fizemos o mal. E se não fizemos o mal nesta vida, é porque o fizemos noutra. Esta é uma alternativa a que não podemos escapar, e na qual a lógica nos diz, de que lado está a justiça de Deus. O homem não é, portanto, punido sempre, ou completamente punido, na sua existência presente, mas jamais escapa às consequências de suas faltas. A prosperidade do mau, é apenas momentânea, e se ele não expia hoje, expiará amanhã. Pois aquele que sofre, está sendo submetido à expiação do seu próprio passado. A desgraça que à primeira vista, pode parecer imerecida, têm, portanto, a sua razão de ser, e aquele que sofre  pode sempre dizer
« Perdoai-me Senhor, porque eu pequei.»

  Os sofrimentos produzidos por causas anteriores são sempre como os decorrentes de causas actuais, uma consequêcia natural da falta cometida. quer dizer, que em virtude de uma rigorosa justiça distribuitiva, o homem sofre aquilo que fez os outros sofrerem. Se ele fio duro e desumano,poderá ser por sua vez,tratado com dureza e desumanidade; se foi orgulhoso, poderá nascer numa condição humilhante, se foi avarento, egoísta, ou se empregou mal a sua fortuna, poderá ver-se privado do necessário; se foi mau filho, poderá sofrer com os próprios filhos, e assim por diante.

   è dessa maneira que se explicam pela pluralidade das existências e pelo destino da terra,como mundo expiatório que é, as anomalias da distribuição da felicidade e da desgraça, entre os bons e os maus deste mundo. Essa anomalia é apenas aparente, porque só encaramos o problema em relação à vida presente; mas quando nos elevamos, pelo pensamento, de maneira a abranger uma série de existências, compreendemos que a cada um é dado o que merece, sem prejuízo do que lhe cabe no mundo dos espíritos, e que a justiça de Deus nunca  falha. O homem não deve esquecer-se jamais que está num mundo inferior, onde só é detido pelas suas imperfeições. A cada vissicitude deve lembrar que, se estivesse num mundo mais avançado, não teria de sofrê-la, e que dele depende não voltar a este mundo. desde que trabalhe para se melhorar.
   As tribulações da vida podem ser impostas aos espíritos endurecidos, os demasiado ignorantes,
para fazerem uma escolha consciente, mas são livremente escolhidas, e aceites pelos espíritos arrependidos, que querem reparar o mal que fizeram, e tentar fazer melhor. Assim é aquele, que tendo feito mal a sua tarefa,pede para recomeçá-la, afim de não perder as vantagens do seu trabalho.
   Essas tribulações, portanto, são ao mesmo tempo expiações do passado, que castigam, e provas para o futuro que preparam. Rendamos graças a Deus, que, na sua bondade, concede aos homens a faculdade da reparação, e não os condena irremediávelmente pela primeira falta.

   Não se deve crer, entretanto que todo o sofrimento por que se passa neste mundo, seja necessariamente o indício de uma determinada falta. trata-se frequentemente de simples provas, escolhidas pelo espírito, para acabar a sua purificação e acelerar o seu adiantamento. Assim, a expiação serve sempre de prova, mas a prova nem sempre é uma expiação. Mas provas e expiações são sempre sinais de uma inferioridade relativa, pois aquele que é  perfeito não precisa de ser provado. Um Espírito pode portanto, ter conquistado um certo grau de elevação, mas querendo avançar mais,solicita uma missão, uma tarefa, pela qual, será tanto mais recompensado, se sair vitorioso, quanto mais penosa tiver sido a luta. Esses são, mais especialmente,os casos das pessoas naturalmente boas, de alma elevada,de sentimentos nobres inatos, que parecem nada trazer de mau de sua precedente existência, e que sofrem com resignação cristã, as maiores dores, pedindo forças a Deus para suportá-las sem reclamar. Podem-se ao contrário considerar como expiações as aflições que provocam reclamações e levam o homem à revolta contra Deus. O sofrimento que não provoca murmurações pode ser, sem dúvida, uma expiação, mas indica que, foi antes escolhido voluntariamente, do que imposto;; é a prova de  uma firme resolução, o que constitui sinal de progresso, de quem o escolheu.

   Os espíritos não podem aspirar à perfeita felicidade, enquanto não estão puros. Toda a marcha lhe impede a entrada nos mundos felizes. Assim acontece com os passageiros de um navio, tomado pela peste, aos quais fica impedida a entrada numa cidade, até que estejam purificados. É nas diversas existências corpóreas, que os espíritos se livram a pouco e pouco, de suas imperfeições. As provas da vida fazem progredir, quando bem suportadas; como expiações, apagam as faltas e purificam; são o remédio que limpa a ferida, e cura o doente, e quanto mais grave o mal,mais enérgico deve ser o remédio. Aquele, portanto que muito sofre, deve dizer que tinha muito a expiar, e alegrar-se de ser curado logo. Dele depende, por meio da resignação, tornar proveitoso o seu sofrimento e não perder os seus resultados por causa de reclamações, sem o que teria de recomeçar.

Capítulo V, Do livro, O Evangelho Segundo o Espiritismo ( Allan Kardec)





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